domingo, 9 de setembro de 2012

Um desenho deprimido

Todos os dias quando eu acendo a luz do meu quarto, ela fica ansiosa para ver se este é finalmente o dia. Se pudesse abanava o papel tanto até o bloco cair ao chão, para eu reparar nela. Mas o dia acaba por passar e nada acontece. Os seus olhos vão ficando cada vez mais tristes, até começa a borrar. Está farta de estar assim, quer se pendurada na parede como os outros que estão por cima do sofá, logo ao lado da embalagem de Chiclets gigante. Ela gostava de me pedir, de gritar, mas permanece calada, porque não tem opção, visto que é esse o seu problema: não tem boca. Bastava eu pegar num lápis e passá-lo algumas vezes sobre o papel e ela estaria pronta para pendurar. Até já aconteceu, mas as bocas ficaram estranhas, nada como a dela é realmente e foram apagadas outra vez.
Agora está no bloco há algum tempo. Em cima da cadeira do piano e tenho de a tirar dali cada vez que toco. Mas a coitada da Marion Cotillard continua sem boca. Gostava de a acabar, mas faço muito isto. Desenho, depois alguma coisa interfere e faz com que eu pare, depois passa demasiado tempo e já não consigo acabar o desenho bem, deixando o desenho sem uma boca ou um olho...
Tal como o da Marion Cotillard. Mesmo assim, gosto dele.







PS: Este post não quer parecer poético

3 comentários:

  1. Pois, é no último toque que se vê se a expressão ficou bem. Se calhar o problema não esta na boca, mas sim no resto. Mesmo assim acho que esta bem. Acaba e faz outro ;)

    ResponderEliminar
  2. andré, tens de acabar isso, man! a sério!

    ass: SATAN

    ResponderEliminar